
O forte crescimento vivido pelo Brasil nos últimos 15 anos coloca novamente em evidência um profissional que viveu um ostracismo nos anos 80: o engenheiro.
Empresas, sindicatos e universidades concordam que há escassez destes profissionais para atender a forte demanda do mercado, estimada hoje em 80.000 novos engenheiros por ano.
Por conta desta deficiência, o Brasil torna-se atrativo para engenheiros estrangeiros, principalmente da Europa, que enfrenta forte recessão e apresenta altas taxas de desemprego.
O Brasil precisa reagir e investir na formação de mais engenheiros, porém não pensando apenas em quantidade, mas em qualidade. Este déficit de engenheiros afeta o desenvolvimento tecnológico, acarretando em perda de competitividade frente ao mercado internacional. Cada vez mais o Brasil teria que importar tecnologia estrangeira.
Comparativamente com outros países, o Brasil apresenta números ruins quando comparados aos nossos vizinhos da América do Sul, piores quando comparados aos parceiros do BRICS e muito pior quando comparados aos países mais desenvolvidos tecnologicamente, como EUA, Japão, Coréia.
Considerando a população economicamente ativa, o Brasil apresenta 6 engenheiros em cada grupo de 1000. Na América do Sul, são 8 engenheiros e nos demais países do BRICS esse número varia de 12 a 18. Nos países que estão competindo conosco por um lugar no seleto grupo de países desenvolvidos, a proporção de engenheiros é duas a três vezes maior que a nossa.
Aproveito para discutir um dos piores cenários em termos de engenharia, a Cartográfica. Com apenas seis faculdades, todas públicas, (Rio de Janeiro-RJ (2 – IME e UERJ), Curitiba-PR (1 – UFPR), Presidente Prudente-SP (1 – UNESP), Recife-PE (1 – UFPE) e Porto Alegre-RS (1 – URGS)), formamos cerca de 100 Engenheiros Cartógrafos por ano.
Como veterano e conhecendo o mercado como conheço, considero esse número irrisório. O mais interessante é que muitos alunos cursam Engenharia Cartográfica por exclusão, por falta de opção. Seja por uma questão de horário (única engenharia com curso noturno), seja por uma questão geográfica (única engenharia na vizinhança), a escolha nem sempre é feita por afinidade com a profissão.
Tive a oportunidade de poder escolher a minha especialidade ao fim do curso básico de engenharia. Num leque de 10, escolhi a cartográfica. Numa turma de 60 alunos, apenas 4 fizeram isso (a maior turma da história da Cartografia do IME). E por incrível que pareça, todos fizeram carreira na área, enquanto dos outros 56, muitos migraram para o setores financeiro e de informática.
Ou seja, no nosso caso, pudemos alcançar a realização profissional como Engenheiros Cartógrafos, mas não estamos contribuindo de forma efetiva para a valorização desta Engenharia, com o aumento da demanda. Você tem alguma ideia para reverter esse quadro?